sexta-feira, 30 de abril de 2010

Quilombo de Mangueiras, em Belo Horizonte, pode ser impactado pela Copa de 2014


O Quilombo Urbano de Mangueiras, em Belo Horizonte , com processo avançado de titulação junto ao INCRA, está ameaçado por um projeto de urbanização da Prefeitura do Município de Belo Horizonte. O projeto apresenta como uma de suas justificativas a construção de alojamentos para a Copa do Mundo de 2014, uma Vila da Copa.

Em 2008 uma equipe de antropólogos da UFMG elaborou um detalhado Relatório Antropológico de Caracterização Histórica, Econômica e Sociocultural do quilombo (uma verdadeira etnografia com mais de 200 páginas) que integra o processo de RTID do INCRA, já publicado no DOU. Parte do perímetro de cerca de 20 hectares pleiteado é hoje terra da família Werneck, uma influente família na cidade, que detém uma grande área não urbanizada na região. O espaço que até pouco tempo era desvalorizado, por estar em uma das regiões mais pobres de Belo Horizonte e devido ao seu relevo acidentado, se tornou em poucos anos cobiçado pelo mercado imobiliário, diante de realização de empreendimentos públicos, principalmente após a construção do novo Centro Administrativo do Governo Estadual, localizado a cerca de 5 quilômetros da Comunidade Quilombola de Mangueiras.

A família entrou com contestação ao Relatório Antropológico junto ao INCRA, há quase um ano, mas o recurso ainda está em análise. Simultaneamente, esta mesma família tem negociado junto com outros empreendedores e a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, um projeto de urbanização da região lançado com grande euforia no final de março, na mídia local.

Para a viabilização do empreendimento, a prefeitura propôs a alteração da Lei de Uso e Ocupação do Solo para a região, que já se encontra em discussão na Câmara de Belo Horizonte. Em uma das matérias de um jornal local, a atuação entre prefeitura e empreendedores privados tem sido chamada de “operação urbana consorciada”, pois em troca da aprovação desse novo zoneamento, os empreendedores se comprometeriam em financiar infraestrutura e equipamentos públicos para este “novo espaço”. Com as mudanças, a permissão para construir na área aumentaria de 16,3 mil para 72 mil unidades habitacionais, um aumento de 440% da capacidade atual, com estimativa de custo de 7,7 bilhões. No acordo também faz parte o empréstimo de 3 mil unidades habitacionais para abrigar a Vila Olímpica durante a Copa do Mundo de 2014 (Jornal Estado de Minas, 28/03/2010, p.26-27).

Tanto o novo zoneamento da região, quanto a proposta do empreendimento, desconsideram o processo de titulação da Comunidade de Mangueiras junto ao INCRA. Os dois parecem considerar apenas a atual posse do grupo e não o território pleiteado, embora a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte tenha sido devidamente notificada pelo INCRA sobre o processo de regularização territorial em curso. Sobre parte desse território está prevista a criação de uma RPPN e a construção de uma via “pública”, com 16 pistas, no moldes da Avenida Antônio Carlos, nesta capital.

O receio é que, em pouco tempo, comecem as obras de urbanização dentro do perímetro pleiteado, prejudicando de modo irrecuperável o direito ao território do Quilombo de Mangueiras. Tal risco é ainda maior diante dos fortes interesses imobiliários envolvidos no caso, bem como do fato do projeto vir atrelado às obras preparatórias para a Copa do Mundo de 2014, o que pode fazer com que prazos e embargos que deveriam ser respeitados venham a ser facilmente ignorados.
Cabe destacar que o Quilombo já vinha sendo pressionado pela ocupação urbana desordenada à sua volta, com graves prejuízos ambientais. O fato, contudo, de um projeto oficial de ocupação ser lançado sem considerar o pleito territorial da comunidade quilombola ali existente é ainda mais grave e demanda medidas urgentes de proteção.

Mangueiras
A comunidade Quilombola de Mangueiras é composta por 19 famílias residentes em 15 casas. Todos descendentes do casal de lavradores negros, Cassiano e Vicência, na segunda metade do século XIX, anterior a criação da cidade de Belo Horizonte.
Esse casal, junto com seus 12 filhos, utilizavam estas terras para seu sustento e para a reprodução do seu modo de vida, em uma área de aproximadamente 8 alqueires, cerca de 387 mil metros quadrados. Do território original o grupo hoje vive em cerca de 17 mil metros quadrados, dos quais, cerca de 90% apresentam fortes restrições ambientais devido a forte aclividade da área e das inúmeras nascentes de água.

Histórico de Invisibilidade
Este grupo tem sofrido processos contínuos de invisibilidade. Apesar do grupo possuir uma territorialidade centenária, a história oficial da cidade não a considera. Sua presença sempre fora invizibilizada por outros grupos sociais presentes na mesma região, portanto, não é de se estranhar que a instalação da família Werneck na região, por volta da década de 20, tenha transformado a então Região do Isidora em região da Granja Werneck.

O registro do auto-reconhecimento pelo Estado Brasileiro em dezembro de 2005, e o processo de titulação realizado pelo INCRA, parece não ter sido suficiente para que os empreendimentos realizados nos últimos anos considerasse a existência desse grupo social e considerasse medidas que resguardassem sua territorialidade frente aos impactos gerados por tais empreendimentos. Só nesses últimos anos foram pelo menos 4 grandes empreendimentos no chamado “vetor norte” de Belo Horizonte, a maioria, realizada pelo governo do Estado de Minas Gerais: o fortalecimento do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, a duplicação da MG-10, conhecida por Linha Verde, a construção do novo Centro Administrativo do Estado de Minas Gerais e a duplicação da MG-20 que subtraiu parte de seu território.

Como a história parece se repetir, a comunidade foi surpreendida pelo anuncio desse novo empreendimento, que segundo os jornais, tem sido negociado a mais de um ano. Durante esse tempo a comunidade não foi convidada para participar de nenhuma discussão sobre o projeto. Um dos maiores desafios do grupo ao longo do último ano foi o de tentar inserir no endereçamento oficial da cidade, o Quilombo de Mangueiras, e assim poder registrar sua Associação. Enquanto isso uma das matérias publicadas afirma que a área é uma das “últimas áreas livres” de Belo Horizonte, ou ainda que ela pertenceria a alguns poucos proprietários.

Nessa semana, ainda sob o impacto da morte de sua liderança histórica e presidente da Associação Quilombola de Mangueiras, o Sr Valter Silva, representantes da comunidade se reuniram com o Procurador da República em Minas Gerais , Dr. José Jairo Gomes, que ficou de estudar o caso. Esperamos que o Ministério Público atue de forma que prevaleça o interesse social da proteção de um território étnico seja resguardado frente ao interesse privado, por maior que ele seja.
Para além desta frente junto ao Ministério Público Federal, nós antropólogos e pesquisadores associados do Núcleo de Estudos de Populações Quilombolas e Tradicionais - NuQ/UFMG pedimos apoio na divulgação desta moção e na luta das comunidades tradicionais pela permanência em seus territórios.

Núcleo de Estudos Sobre Quilombos e Populações Tradicionais – NuQ/UFMG
Belo Horizonte, 12 de abril de 2010

quarta-feira, 28 de abril de 2010

POEMA DE SENGHOR - MULHER NEGRA

Tradução de Guilherme de Souza Castro*

Mulher nua, mulher negra
Vestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!
Cresci à tua sombra; a doçura de tuas mãos acariciou os meus olhos.
E eis que, no auge do verão, em pleno Sul, eu te descubro,
Terra prometida, do cimo de alto desfiladeiro calcinado,
E tua beleza me atinge em pleno coração, como o golpe certeiro
de uma águia.
Fêmea nua, fêmea escura.
Fruto sazonado de carne vigorosa, êxtase escuro de vinho negro,
boca que faz lírica a minha boca
savana de horizontes puros, savana que freme com
as carícias ardentes do vento Leste.
Tam-tam escultural, tenso tambor que murmura sob os dedos
do vencedor
Tua voz grave de contralto é o canto espiritual da Amada.
Fêmea nua, fêmea negra,
Lençol de óleo que nenhum sopro enruga, óleo calmo nos flancos do atleta,
nos flancos dos príncipes do Mali.
Gazela de adornos celestes, as pérolas são estrelas sobre
a noite da tua pele.
Delícia do espírito, as cintilações de ouro sobre tua pele que ondula
à sombra de tua cabeleira. Dissipa-se minha angústia,
ante o sol dos teus olhos.
Mulher nua, fêmea negra,
Eu te canto a beleza passageira para fixá-la eternamente,
antes que o zelo do destino te reduza a cinzas para
alimentar as raízes da vida.

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* Falecido professor da UFBa, foi diretor do CEAO e professor em Ifé (Nigéria).

terça-feira, 27 de abril de 2010

FÓRUM NACIONAL DE PERFORMANCE NEGRA –MG

O COLETIVO REGIONAL

Convida você artista negro para discutir a preparação e organização de uma AÇÃO de Arte Negra para dia 13 de maio 2010.


REUNIÃO DO COLETIVO REGIONAL DE PERFORMANCE NEGRA -BHTE-MG

Dia: 27/04/2010 (terça) Local: Centro Cultural da UFMG Hora: 19h

ENDEREÇO: AV. Santos Dumont, 174 - CENTRO
Bhte-MG (esquina com Bahia enfrente Pça da Estação)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

COISA DE TIETE

ROUPA DE MASCAR


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Os croquis da Chiclets by Ronaldo Fraga

O fashionista deve lembrar do início da parceria de Ronaldo Fraga com a Chiclets. O estilista desenvolveu acessórios usando caixinhas do produto na primavera-verão 2009/10, desfilada no SPFW. Os convidados saíam do desfile com uma maxicaixa Chiclets – impossível passar batido! Agora chegou a vez de transformar as gomas de mascar em roupas: trata-se da coleção que Ronaldo lança hoje, com festa em SP – vai ter show da banda Strike pra 300 convidados. A nova Chiclets by Ronaldo Fraga tem opções pra meninas e meninos. O que se sabe é que, pelo menos até o fim do ano, é o mineiro quem comanda essa entrada da marca no mundo da moda – e a coleção tem a cara de Ronaldo! O Blog LP te mostra os croquis e adianta: você vai encontrar as peças de roupa nas lojas do estilista, em SP e BH.

Divulgação

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Os croquis da Chiclets by Ronaldo Fraga

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Exposição de Antônio Sérgio Moreira