terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Carta de Sabará encerra II Encontro Nacional de Clubes Negros -

Carta de Sabará encerra II Encontro Nacional de Clubes Negros

O II Encontro Nacional de Clubes Sociais Negros terminou neste domingo (31) com a redação da Carta de Sabará. A criação de uma linha de empreendedorismo nos clubes para geração de emprego e renda e a realização de uma parceria com a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), ambas em 2010, são alguns dos itens que constam do documento.

De acordo com a secretária municipal de Desenvolvimento Social de Sabará e representante dos clubes negros de Minas Gerais, Kelly Cardozo, a parceria com a ABPN permitirá, por exemplo, a produção de pesquisas acadêmicas sobre o universo clubista. Ainda como resultado do evento, a secretária afirmou que neste ano será criada uma associação ou federação nacional dos clubes negros.

O II Encontro reuniu durante três dias, em Sabará, representantes de mais de 60 clubes sociais negros brasileiros. Os participantes discutiram temas como a organização jurídica, a tradição cultural e a trajetória do movimento negro dentro dos clubes sociais. O evento contou com a participação do ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, que reafirmou o compromisso da SEPPIR com o movimento clubista.

"A existência de clubes sociais negros é a prova da existência da segregação no período posterior à abolição. O papel da SEPPIR é articular a recuperação da história dessas agremiações, promover a recuperação do seu patrimônio e dialogar com os clubes com o objetivo de dotá-los de sustentabilidade, sem traço paternalista do Estado", afirmou o ministro.

Conceito - O I Encontro, realizado no ano de 2006 em Santa Maria (RS), definiu que os clubes sociais negros são espaços associativos de convívio social do grupo étnico afro-brasileiro. Voluntariamente constituídos, têm caráter beneficente, recreativo e cultural, e desenvolvem atividades em espaços físicos próprios. Com base nesse conceito - reafirmado durante o II Encontro - já foram identificados cem clubes negros em cinco estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

Os primeiros clubes surgiram no fim do século 19 - logo depois da abolição da escravatura - época em que os negros eram frequentemente barrados em lugares de lazer da sociedade da época. A partir da rejeição, esses grupos começaram a construir os próprios espaços de socialização. Era uma forma de resistência ao sistema escravagista ainda vigente. Os antigos clubes também surgiram com o objetivo de angariar fundos para o pagamento da liberdade dos escravizados. Os espaços, mantidos pelos próprios associados, contam a história dos negros brasileiros por meio de documentos, fotografias, livros e pela memória dos integrantes.

O anfitrião do evento em Sabará foi o Clube Mundo Velho. Com 116 anos de existência, é um dos quatro clubes negros mineiros, ao lado do Sorriso (Mariana), do Cutuba (Leopoldina) e do Chico Rei (Poços de Caldas).

Sabará e a promoção da Igualdade Racial - O prefeito de Sabará, William Borges, aproveitou a presença do ministro na cidade para solicitar uma audiência. Ele pediu apoio da SEPPIR para a capacitação dos professores das 30 escolas municipais em cumprimento à Lei nº 10.639, que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira em todas as escolas do país. O ministro informou que o Plano Nacional de Implementação da Lei está sob a supervisão do Ministério da Educação, mas se comprometeu a fazer a interlocução entre o MEC e a Prefeitura.

A cidade de Sabará, vizinha a Belo Horizonte, teve seu patrimônio histórico totalmente construído, no século XVII, pela mão-de-obra de negros escravizados. Atualmente sua população é constituída por 65% de negros e negras, mas a desigualdade racial ainda é gritante. Das 11 cadeiras de sua Câmara Municipal, por exemplo, apenas uma é ocupada por vereador negro. A partir da constatação desta realidade, o município aderiu em 2009 ao Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial. Desde então, já criou o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial e a Coordenadoria de Igualdade Racial, subordinada à Secretaria de Desenvolvimento Social.

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