quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Professor Anelito - Demitido por e-mail, professor da Unimontes denuncia perseguição.

A imagem pode conter: Anelito De Oliveira, sentado

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Demitido por e-mail, professor da Unimontes denuncia perseguição.
Perseguição política, racismo institucional e assédio moral resultam em desligamento arbitrário do professor Anelito de Oliveira da Universidade Estadual de Montes Claros
O professor Anelito de Oliveira foi demitido por e-mail pela chefe do Departamento de Comunicação e Letras da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Sandra Ramos. A decisão surpreendeu a ele e seus alunos. Oliveira, um dos mais renomados pesquisadores da instituição, lecionava no campus de Unaí, no noroeste de Minas Gerais.
“Recebi a notícia na noite da última quinta-feira, ao regressar de mais uma exaustiva jornada de trabalho”, informa. Segundo ele, a mensagem é o desfecho lamentável de um longo processo iniciado em 2009, passou a ser assediado moralmente na instituição, tornando-se objeto de perseguição política “revestida de doses cavalares do chamado racismo institucional, aquele que destrói sujeitos negros com o amparo da lei”.
Negro, reconhecido dentro e fora do país pelo combate ao racismo, Anelito de Oliveira está ligado à Unimontes desde 2005, atuando na graduação em Letras e em programas de pós-graduação em Desenvolvimento Social (para cuja consolidação contribuiu) e Estudos Literários (para cuja concepção, implementação e consolidação contribuiu significativamente).
Dono de sólida formação e vasta experiência em Docência e pesquisa no campo dos estudos literários, é Doutor pela Universidade de São Paulo (USP), mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pós-doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tendo realizado estágio de pesquisa pós-doutoral em cinco das mais renomados universidades europeias: Universidade de Salamanca, Universidade do Porto, Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa e Universidade do Minho.
Sonho desfeito - A mensagem da professora Sandra Ramos foi recebida por ele como o fim de uma possibilidade acalentada durante 14 anos na instituição - de alcançar uma estabilidade na instituição que lhe permitisse dar continuidade às atividades de ensino e pesquisa, contribuindo, especialmente, para a excelência no campo dos estudos literários, inclusive com a implementação de um programa de doutorado na área.
Apesar de toda a bagagem de conhecimento e experiência profissional, o professor é um das centenas de designados (contratados) da Unimontes que necessitam de contratação temporária para o exercício de suas atividades, o que, traduzindo, significa dependência de assinatura de chefe de departamento e outros ocupantes de cargos superiores.
A assinatura desses colegas de trabalho foi decisiva no início de sua relação com a Unimontes, no período de agosto de 2005 a agosto de 2007. Isso mudou entre janeiro de 2008 e dezembro de 2014, quando o profissional foi assegurado pela chamada lei 100 (lei da efetivação). Mas, essa dependência voltou a vigorar a partir de 2015, quando o professor voltou a ser designado em razão da queda da lei 100 determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O desligamento de Anelito de Oliveira do quadro de professores da Unimontes neste momento tem, da parte da professora que chefia o Departamento de Letras, uma explicação aparentemente técnica. Oliveira teria se recusado a assumir os encargos didáticos que lhe foram oferecidos no dia 27 de dezembro passado, todos no campus que a instituição mantém precariamente, há 16 anos, na cidade de Unaí.
Perseguição - Transtornado pela decisão da chefe do departamento, o professor colocou em xeque a explicação técnica da sua mensagem na madrugada de sexta-feira passada, quando se dirigiu aos alunos de Letras do Campus Unaí através de mensagem via whatsapp, na qual desvela toda a complexidade do caso, disponibilizando, assim, elementos que permitem, de acordo com ele, a percepção da perseguição inequívoca de que estaria sendo vítima.
Segundo Oliveira, dois fatos pesaram em sua decisão de não assumir os encargos didáticos (aulas) na reunião de 27 e dezembro. Ele estava aguardando ainda decisão do Programa de Pós-graduação em Letras (PPGL) sobre seu pedido de reingresso no programa, oficializado ainda no mês de novembro passado, o que poderia lhe garantir uma carga horária de 20 horas no campus da Unimontes, em Montes Claros; além de estar sob grande tensão psicológica em razão de desarranjo intestinal advindo de má qualidade de comida ingerida no apartamento reservado aos professores da Unimontes em Unaí.
O professor revelou que compareceu à reunião de distribuição em condições físicas e psicológicas instáveis porque temia que sua falta não fosse relevada pela chefe de departamento. A submissão de todos os professores a uma espera de mais de cinco horas para escolher aulas fez com que se agravasse seu estado. Estressado, ele deixou a reunião sem escolher as aulas.
Ouvido pelo Em Cima da Notícia, Anelito de Oliveira expôs toda a angústia que vivenciou durante os meses de janeiro e fevereiro ao tentar, insistentemente, reverter a situação, de modo a manter o vínculo com a instituição que lhe é assegurado por processo seletivo simplificado realizado em Janeiro de 2016 e ainda vigente. Nele, que rege a designação de professores no Departamento de Comunicação e Letras, o professor figura na primeira colocação.
Indignação - Ao receberem a mensagem do professor, os alunos do curso de Letras reagiram com indignação, postando mensagens em sua defesa no Whatsapp e no Facebook. “A reação dos alunos revela, por si só, quão inconsistente, falacioso, foi o comentário da professora Sandra Ramos durante a distribuição de aulas”, diz, referindo-se à fala da chefe de departamento em que ela disse que os estudantes teriam reclamado dele.
Entre as muitas qualidades do professor, ressaltadas por seus alunos - os únicos que, segundo ele, podem julgar o seu trabalho com isenção -, está aquela que distingue os verdadeiros mestres: a humildade. “Foi exatamente por isso que decidi construir uma história na Unimontes, fixando-me no sertão mineiro, depois de uma carreira intelectual já consolidada nos grandes centros do país. E é dessa humildade que certos colegas na Unimontes, por motivos reais escamoteados, abusam a ponto de querer justificar, com o uso intolerante dos seus atos, minha exclusão do quadro de professores da instituição”, acredita.
Segundo Oliveira, o principal desses atos, que embasa a prepotência da professora Sandra Ramos no momento, é o fato dele não ter apoiado a eleição do padre Antônio Alvimar para Reitor, ato coerente com outro do ano de 2014, quando o professor também não apoiou a eleição do mesmo padre para vice-Reitor da instituicao.
Para Anelito de Oliveira, a relacão entre esse ato e o ato, considerado por ele intolerante da chefe de departamento, ficou muito evidente ao longo de todo o ultimo mês de janeiro, quando, desesperado com a possibilidade de perder o emprego que lhe garante o sustento de si e de sua família, recorreu, através de mensagem de whatsapp e telefonema, ao padre Reitor.
Segundo o professor, o padre ignorou solenemente a mensagem e respondeu de modo evasivo à sua ligacão telefônica. E teria feito algo mais. “Numa demonstracão de inabilidade para o cargo que ocupa, reproduziu, em mensagem a professor de outra instituição, via whatsapp, apreciações caluniosas, difamatorias e injuriosas sobre mim”, denuncia Anelito de Oliveira.

Tentamos, mas não conseguimos contato com os envolvidos no episódio. Este espaço está aberto à chefe de departamento e ao reitor.

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